segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Música

Ritual de sonoridade na escola


O ambiente escolar, com seus barulhos, sons é sempre carregado da alegria gritante e contagiante dos adolescentes.
Começa bem cedinho. Nos arredores da escola eles despontam timidamente. Ora a passos apressados ora a passos lentos. Os que vêm com passadas mais rápidas querendo chegar logo para misturarem-se ao grande bando. Sua pressa é para que seja o primeiro a começar o vôo ao encontro dos outros que se aproximam e saber as primeiras impressões e novidades do dia que está por vir. Já os vagarosos têm outro propósito eles vêm como se quisessem prolongar o percurso, valorizar sua chegada causar expectativas a quem está os esperando dentro dos portões da escola, uma forma bem sucinta de chamar atenção de quem tem a responsabilidade de controlar os atrasados. – me viu aqui? - parecem querer dizer. Em suma. Não querem acordar ainda!
No portão estreito valoriza a demora para despertar atenção dos passantes e exibir-se aos colegas. Todos com uniformes próprios de suas tribos que inclui tênis, camisetas, calças, moletons de capuz cobrindo a cabeça para uns, bonés para outros, penduricalhos nas mochilas, celulares, electrônics teen, além de alguns hábitos para pertencer aos grupos como barriguinhas sequinhas de fora e cuecas à mostra, cabelos tintos e cortes ‘Emo’ é próprio da época, unhas coloridas, tatuagens, brincos para meninos, piercing para ambos os sexos entre outras novidades que passarão a usar e abolir em curto espaço de tempo. Uns mais aparec(i)entes outros mais retraídos e tímidos estes não sabem ainda como entrar e pertencer àqueles que não tem essa preocupação de estarem ou não sendo aceitos. É como se quisessem dizer “to aqui porque cheguei”.
Todos são o que são em acelerada descoberta, busca interior, dúvidas mil, um protestar frenético, testar limites dos que venham a ter postura de regular, colocar regras ou que simplesmente passe por eles. Sua necessidade é pertencer a uma tribo, grupo, bando...
Quando então dá o primeiro sinal, o do início das aulas, estão todos no pátio da escola o som de seus aparelhos eletrônicos não são ouvidos, suas conversas são gritadas porque cada um tem que se entocar em sua sala de aula. Aluno adora a escola, só não gosta das aulas. Lá começa outra tentativa de sobressair a outro grupo o de nível de conhecimento e aprendizagem e não de afinidades. De repente o barulho parece acabar. Só parece...
Começa agora um som abafado. O das salas compactadas. Até que o professor consegue ser ouvido e manifestar-se leva um tempinho. Os burburinhos diminuem o que para os alunos que insistem em não desacelerar o ritimo e o tom da voz é terrível há aqueles que insistem em não acordar. É como se o seu trajeto até à escola tivesse sido apenas um sonambulismo e, debruçam sobre as carteiras para continuar o sono interrompido pelo sonho. Que dó! É próprio de o adolescente dormir bastante pela manhã.
Nessa idade, os meninos estão mudando sua voz e, é humanamente impossível a competição deles com um professor ou professora dentro de uma sala de aula. E, por outro lado as adolescentes querem ser ouvidas a todo custo, a todo grito e volume sabe-se lá o que.
Essa rotatividade de barulhos abafados e compactados se dá até a hora do recreio a cada sinal com a troca de professores quando retoma o processo de desacomodação de alunos, professores, sons e nova acomodação na sala de aula. É eletrizante para os alunos e desgastante para professores. Adolescente é assim elétrico, agitado, barulhento e salvo alguns casos de quietude, timidez e silêncio. Talvez por receio de ser alvo de bulling.
Então chega o ponto alto do dia. O recreio! Come-se primeiro atendendo a uma necessidade orgânica. E, na fila começa o processo do durante o recreio. O tempo é curto. Tudo e todos às pressas. Não dá pra esperar o colega chegar. Grita-se muito. Fala-se alto. Ouve-se música. Cada um a sua. Quer a do outro também. Voltinha pra lá. Voltinha pra cá. Olhares! Esbarrões, propositais ou não! Insinuações despretensiosas. Início da sexualidade. Descobertas múltiplas e intensas. Ninguém pode esperar. Os menores ou mais infantis ainda, brincam de pique. Correm muito. Ninguém quer esperar. Entradinha rápida na biblioteca e sai. Os que estão na contramão de todo esse agito, têm tempo e sempre folheiam um livro que deixou reservado dia anterior com a bibliotecária.
Final do recreio, o primeiro sinal para a volta às classes. Esse é o horário de pico nesse ritual sonoro na escola. Até o segundo sinal tudo precisa estar combinado para a saída. Cinco minutos de últimas olhadinhas. Rizinhos. Gritos. Adeusinhos. Demonstrações masculinas e exibições femininas. È só alegria!
Depois do recreio o tom insiste em não baixar dentro das salas. Dificulta o trabalho dos professores. É a preparação para a saída ao final do período. Com tudo que foi tramado até o recreio, elaborado no curtíssimo tempo do mesmo e que será executado fora da escola. Encontros ou ficadinhas.
Ao final das aulas há os que têm pressa de saírem dos portões para ver os colegas se retirarem. Um a um observa atento. Há os que preferem ser observados por aqueles. E, ainda há os que querem demorar na saída para degustarem os restos de alegria espalhados pelo pátio, salas vazias, professores saindo na contramão deles com um risinho de tchau, e até amanhã.
De lá de dentro da escola ouve-se o barulho se desmanchando. Apressado para uns. Os pais à espera de outros. Alguns adolescentes enrolando ao máximo para ver o que vai sobrar da agitação e de todo aquele dia e levar consigo para começar a manhã seguinte. O bando divide-se em tribos de bairros e ou ruas próximas. Indo em todas as direções.
Seus barulhos de sorrisos, gritos próprios, característicos os acompanha e vão distanciando. É como quando o botão do volume de um rádio é girado para o menos ao toque do ouvinte. Lembrando a saída da banda lá da praça na música ‘A banda’ de Chico Buarque. Se esvaindo, lento, devagar e baixinho. Pra trás restos e alegria, encontros, brincadeiras e promessas de recomeçar no dia seguinte. Cada tribo no seu destino.
Já é final do final e a esperada acomodação auditiva ainda não acontece recomeçando agora menos volumosa e intensa, só por aqueles poucos, que primeiro chegaram, primeiro saíram e querem encaminhar todos até seus destinos para saberem tudo de todos. Querem sobressair a todos é assim que eles pertencem ao bando todo. Eles não têm pressa de chegarem as suas casas. Estão preparando não vêem a hora de começar tudo de novo no dia seguinte. É o ritual sonoro da escola, dia após dia.

Isabel de Lourdes Duque Deodato.
10/05/2010.

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